“A humanização do nascimento não representa um retorno romântico ao
passado, nem uma desvalorização da tecnologia. Em vez disso, oferece uma
via ecológica e sustentável para o futuro.” Ricardo Herbert Jones
Acho que chegou o momento de fechar um ciclo, isso se dará pelo MEU
posicionamento. Quero esclarecer para os leigos e interessados algumas
situações.
A primeira situação a cerca da obstetrícia em Fortaleza.
Realmente encontrar um médico que assista parto humanizado, respeitando
o protagonismo da mulher são poucos, conseguimos inclusive contar nos
dedos de uma mão. Mas eu acredito sim em muitos profissionais, que não
fazem obstetrícia em seus consultórios particulares para não ferir a
ética, estes conhecem a realidade obstétrica são plantonistas obstetras e
tive o prazer de ver atuar e vejo como são pessoas humanas. Criticar os
poucos profissionais que estão atuando é um problema seríssimo. Não
precisamos bater de frente, precisamos nos unir.
O movimento da
humanização é baseado nas orientações da OMS e do Ministério da Saúde
que visa entre vários assuntos à melhoria na saúde materno - infantil e
claro redução de gastos (cirurgia sempre é algo caro).
Em Fortaleza
o movimento há pouco mais de um ano, ainda era tímido, restrito e por
que não dizer desconhecido, mesmo com pessoas trabalhando há anos com
partos domiciliares e doulagens.
Com a aproximação de 2015 o
governo intensificou a atenção à saúde da mulher, pois estava nas metas
do milênio (Pacto da Saúde) a redução da mortalidade materno-infantil,
como não foi alcançado o acordo, muita coisa precisou ser repensada,
como a assistência ao pré-natal, parto e pós-parto por exemplo.
Em
2013 foi lançado um documentário (O renascimento do parto) que trás
temas muito discutidos entre ativistas e estudiosos. E assim o movimento
de humanização tomou mais forca e atingiu uma grande quantidade de
pessoas. Muitas começaram a repensar seus partos e experiências e outras
iniciaram buscas por um parto respeitoso.
O movimento de
humanização ao nascimento busca o protagonismo da mulher dentro da
medicina baseada em evidencias. Ou seja, procura o respaldo cientifico
para justificar suas praticas (ex: por que bolsa rota não é indicação
absoluta para cesariana e tem estudo para comprovar).
Junto com
vários novos grupos de apoio ao parto propagou-se um movimento que já
existe há muitos anos e em diversos países: Partos na Tradição. São
pessoas que realizam um curso e iniciam seus trabalhos como doulas
(acompanhantes de parto), facilitam encontros (rodas de conversas) e
realizam assistência ao parto natural (parteiras da tradição).
Esta
modalidade de assistência, ainda não é reconhecida pelo nosso
Ministério da Saúde, pois para o MS só podem assistir partos em centros
urbanos pessoas capacitadas, com exigência acadêmica de Residência em
Saúde da Família e Comunidade ou Obstetrícia (no caso de médicos),
especialização em enfermagem obstétrica (para enfermeiros) ou curso de
graduação na modalidade de Obstetriz (apenas uma universidade oferece
este curso no Brasil). Para as parteiras de localidades rurais que a
assistência não chega o Ministério da Saúde oferta um curso para quem já
realiza este oficio de caridade, não é ensinado a fazer parto, apenas é
ofertado um treinamento que aborda noções de primeiros socorros,
higiene e entrega de kits que podem amenizar os efeitos de uma má
assistência ofertada (devido a circunstancias).
Da mesma forma que
eu não condeno quem realiza uma cesariana, não condeno quem opta por um
parto natural com uma parteira da tradição (aquela que fez um curso que
ainda não é reconhecido pelo MEC e nem Ministério da Saúde). Apenas
espero que da mesma forma que deve ser explicado os riscos e
“benefícios” de uma cesárea, deve ser explicado qual é a abordagem de
assistência da Parteira da Tradição, quando estas estão inseridas nos
centros urbanos e cobram por este serviço. Principalmente por que os
estudos que mostram segurança em partos normais (vaginais) sempre estão
ligados a humanização (a estudos científicos) e não saberes empíricos.
Voltando para o cenário de Fortaleza (que é o mesmo a nível nacional),
existem dois grupos que apoiam o parto normal (vaginal). Um apoia
principalmente o parto natural é ofertado o serviço com parteiras e
doulas da tradição. O outro, oferta serviços com profissionais que
chamamos carinhosamente de parteiras, mas que são médicos obstetras e
enfermeiras obstetras e doulas com cursos reconhecidos por algumas
instituicoes (ex. GAMA, ANDO E DONA). Acredito que fica um pouco
complicado entender essas diferenças, principalmente por as equipes se
“misturarem”. Em Fortaleza médicos obstetras humanizados trabalham com
doulas da tradição, assim como médicos obstetras humanizados trabalham
com parteiras da tradição e doulas certificadas (com anos de
experiência) trabalham com parteiras da tradição.
Sem mais delongas meu posicionamento:
Mesmo acreditando na natureza, recorrendo a terapias complementares e
holisticas, tratando minha filha com rezadeira e fitoterapicos,
trabalhando com aromoterapia e admirando o trabalho das “parteiras da
tradição” não as indico para a assistência ao parto (aparar um
recém-nascido) mesmo em uma ambiente seguro e familiar, como no caso de
partos domiciliares naturais. Como também não indico qualquer
profissional ou grupo virtual que não deixa claro sua abordagem (linha
de pensamento) e indica tais profissionais sabendo o que é autorizado
pela lei de assistência ao parto vigente em nossa nação.
Saliento
que meu posicionamento não é baseado em divergências de pensamentos,
conflitos pessoais ou empatias, mas pelo meu compromisso com a
humanização e ética (código de ética de doulas) e meu juramento enquanto
profissional da saúde
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